Sinais de alerta dessas doenças não devem ser ignorados; campanha tem como embaixadores os médicos Drauzio Varella, Ana Escobar e Roberto Kalil
A pandemia de covid-19 traz à tona uma preocupante realidade constatada por médicos em todo o país: a queda no número de atendimentos de emergência de casos de infarto e AVC em 50% e 40%, respectivamente, além de baixa procura nas consultas de rotina para pacientes com diabetes, doença crônica que é fator de risco para infarto e AVC.1-3
Com o objetivo de alertar sobre a necessidade de procurar atendimento médico aos sinais de alerta dessas doenças mesmo em tempos de quarentena, a campanha Saúde Não Tem Hora une a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Diabetes, a Associação Brasileira de Medicina de Emergência e a Rede Brasil AVC, com o apoio da Boehringer Ingelheim.
Com um trio de embaixadores formado pelos médicos Drauzio Varella, Ana Escobar e Roberto Kalil, Saúde Não Tem Hora propõe orientar a população em geral e, em especial, pacientes com diabetes e doenças cardiovasculares, sobre quando procurar auxílio médico em tempos de pandemia.
Principais causas de morte no Brasil, o AVC e infarto precisam de intervenção médica imediata para minimizar o risco de morte e sequelas.4 Esses pacientes são, justamente, os que têm risco aumentado de desenvolver as formas mais graves da covid-19, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. 5
Segundo o cardiologista Álvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), a redução nos atendimentos de emergência de casos como infarto foi observada após estudos em países como Itália, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. “Possivelmente, isto também tenha ocorrido e esteja ocorrendo no Brasil. Há o receio da contaminação por parte da população quando precisa ir às unidades de emergência”, diz Avezum.
Dados do Ministério da Saúde reforçam a necessidade dessa conscientização de que Saúde Não Tem Hora: entre os casos fatais de covid-19 no Brasil, 40% apresentavam cardiopatia e 30% tinham algum tipo de diabetes.6
Estudos internacionais recentes mostram ainda a correlação da infecção mais grave pelo novo coronavírus em pessoas com diabetes.7 Doenças concomitantes, como as do coração, também são um sinal de alerta, não importa a idade. 8-10
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o infarto é uma das principais causas de morte no mundo, responsável por aproximadamente 42% dos óbitos decorrentes de doenças cardiovasculares. E o socorro imediato salva vidas, pontua Avezum. “Pacientes que são admitidos no têm menos risco de óbito quando o tratamento ideal é realizado”, detalha o cardiologista.
O AVC é outra patologia que tem tratamento, se atendido rapidamente. “O rápido atendimento evita o agravamento do AVC e pode salvar vidas”, afirma a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC.
Somente neste ano, a Rede Brasil AVC estima uma redução de até 40% no número de atendimentos na emergência durante a pandemia. “Levantamentos feitos nos hospitais mostraram essa redução do número de casos de AVC chegando às emergências, o que não significa que caíram os números de AVC, mas que esses pacientes estão ficando em casa com medo de pegar coronavírus. Isso é um grave problema, porque pode gerar sequelas para a vida toda”, alerta Sheila Martins.
Além da necessidade de um atendimento de urgência, é importante que após um AVC o paciente faça um acompanhamento com um neurologista para buscar a causa e evitar um novo episódio, além de tratar os fatores de risco associados ao desenvolvimento desta doença. 11
No caso do diabetes, além dos cuidados necessários com a doença, a covid-19 passou a ser mais uma preocupação. Isso acontece porque os pacientes com diabetes são do grupo de risco. “Nesse momento de pandemia, o mais importante é não deixar de controlar a glicemia, pois, se elevada, pode aumentar o risco de complicação em relação à covid-19. Pacientes devem procurar seus médicos para exames mesmo se for de rotina. Se as prescrições estiverem vencidas e exames não estiverem em dia, os pacientes devem procurar seus médicos ou serviços de referência”, orienta a endocrinologista Denise Franco.
Há ainda a necessidade de suporte para os pacientes, conta Vanessa Pirolo, coordenadora de Advocacy da ADJ Diabetes Brasil. A entidade recebeu demandas desde falta de receitas para retirada de medicamentos no SUS e casos de descontrole de glicemia, aliados a quadros de estresse. “ADJ ofereceu suporte para quem nos acionou, com equipe médica e psicológica. Nos deparamos ainda com quadros de descontrole de glicemia, estresse e ansiedade na quarentena”, conta Vanessa.
Dicas para atendimento médico com segurança
Em hospitais e clínicas, é importante que os pacientes fiquem atentos às medidas preventivas, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).12 A higiene das mãos deve ser feita com álcool 70% ou com água e sabão. Fundamental também o uso de máscaras cirúrgicas ou de pano (com pelo menos duas camadas de pano, como algodão, tricoline ou TNT), que devem ser mantidas desde o percurso à emergência até o retorno para casa. Dentro da unidade, mantenha distância de pelo menos um metro entre outras pessoas. Nos consultórios médicos, evitar aperto de mãos e abraços.13
Ao chegar em um atendimento de urgência, importante deixar claro qual a condição de saúde ao profissional que fizer o primeiro atendimento. A comunicação é essencial para a prevenção de doenças em uma instituição de saúde. Muitos serviços estão oferecendo telemedicina, uma ferramenta efetiva para reduzir as distâncias entre os pacientes e o médico.
Referências
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Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista; página 4 Disponível em: https://www.sbhci.org/post/jornal-da-sbhci-ano-xxiii-n-2%C2%BA-78-abr-mai-jun-de-2020-issn-1984-9176 (acessado em 02/07/2020)
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Ministério da Saúde. Tem dúvidas sobre o coronavírus? O Ministério da Saúde te responde! [Internet]. Acessado em: 10 jun 2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/07/Cartilha-Coronavirus-Informacoes-.pdf
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Sociedade Brasileira de Diabetes. Disponível em: https://www.diabetes.org.br/covid-19/notas-de-esclarecimentos-da-sociedade-brasileira-de-diabetes-sobre-o-coronavirus-covid-19/