OMS e um grupo de cientistas independentes debatem sobre a evidência de que partículas do vírus possam flutuar em ambientes fechados e infectar pessoas
Por Luis Fernando Correia, especial para o Por Dentro do Coronavírus
Numa carta aberta à OMS, 239 cientistas de 32 países descrevem evidências que apontam para o fato de que partículas menores do novo coronavírus possam infectar pessoas e, por isso, pedem que a agência revise suas recomendações. Os cientistas planejam publicar a carta em uma revista científica na próxima semana.
Estes pesquisadores vêm dizendo que o coronavírus permanece no ar em ambientes fechados. E, se a transmissão aérea for um fator realmente significativo na pandemia, especialmente em locais com pouca ventilação, as consequências serão desastrosas. Máscaras podem ser necessárias em ambientes fechados, mesmo com o distanciamento. E profissionais de saúde deverão sempre usar máscaras N95, enquanto cuidam de pacientes com coronavírus, pois elas filtram até as menores gotículas respiratórias.
E as recomendações não param por aí. Os sistemas de ventilação de escolas, asilos, residências e empresas podem precisar de filtros ainda mais poderosos. As já famosas luzes ultravioletas, capazes de matar partículas virais em pequenas gotículas, também deverão fazer parte do dia a dia da população.
Até o momento, a OMS afirma que o coronavírus se espalha principalmente por grandes gotículas respiratórias que, uma vez expelidas por infectados, através de tosse e espirro, caem rapidamente no chão. Mesmo na atualização mais recente sobre o coronavírus, de 29 de junho, a OMS avaliou que transmissão aérea do vírus só é possível após procedimentos médicos que produzem aerossóis ou gotículas menores que 5 mícrons (um mícron é igual a um milionésimo de metro).
A orientação da OMS reforça a importância da lavagem das mãos como estratégia de prevenção primária, embora haja poucas evidências de transmissão do vírus a partir de superfícies. A discussão começou no início de abril, quando um grupo de 36 especialistas em qualidade do ar e aerossóis pediu que a OMS considerasse a crescente evidência de transmissão aérea do coronavírus. Os pesquisadores da agência se reuniram e concluiram que o mais importante era focar na higiene pessoal, como na lavagem das mãos, do que enfatizar a questão dos aerossóis.
Segundo o grupo de cientistas vários acontecimentos indicam que a transmissão do vírus pode ocorrer pelo ar, principalmente em ambientes fechados e com pouca ventilação. Eles afirmam que a OMS faz uma distinção artificial entre pequenos aerossóis e gotículas maiores, mesmo que as pessoas infectadas produzam os dois. Ainda segundo representantes desse grupo, já se sabe que tossir e falar geram aerossóis, e por isso é importante prestar atenção sobre a possibilidade de transmissão aérea.
A questão que faz com que a OMS mantenha sua posição é que ainda não foi possível cultivar o coronavírus a partir de aerossóis no laboratório. O que o grupo independente alega é que o fato de não haver estudo que mostre que o vírus pode ser transmitido por aerossol, não significa que não sejam infeciosos, porque a maioria das amostras dos experimentos da OMS são de salas de hospitais com bom fluxo de ar, que diluiria os níveis virais. Já em edifícios a taxa de troca de ar é geralmente menor, o que permitiria que o vírus ficasse no ar, representando um risco maior. Muitos especialistas afirmam que a OMS deve adotar o “princípio da precaução”, isto é, mesmo sem evidências definitivas, a agência deve assumir o pior do vírus e recomendar a melhor proteção possível.