Como as medidas tomadas em outros países, como o diagnóstico precoce, podem contribuir para o combate do vírus em território nacional
Em uma pandemia como a de coronavírus, que registra avanços rápidos e numerosos, é preciso adotar medidas eficientes contra a disseminação da doença e seguir recomendações de órgãos de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). São etapas básicas e que podem evitar que a população de um país como o Brasil não sofra com as dificuldades enfrentadas por outras nações que já foram acometidas pelo vírus.
“O diagnóstico precoce favorece o isolamento de portadores assintomáticos do vírus, diminuindo a explosão no número de casos, permitindo intervenções médicas mais com melhor desfecho”, explica o médico infectologista, Wladimir Queiroz, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em entrevista ao Por Dentro do Coronavírus.
Queiroz faz um panorama de como o Brasil conduz a pandemia de coronavírus e cita outras medidas que poderiam ser adotadas no país.
“Na minha opinião, em termos gerais, a política de controle da pandemia no Brasil está sendo conduzida de maneira adequada. Se pudesse apontar uma falha seria a incapacidade de realização de testes definitivos numa fração maior da população, que não pode ser realizada por falta de kits para o diagnóstico. Poderíamos tentar seguir o padrão de testagem ampla observado na Coreia do Sul, a qual mostrou eficácia na redução do número de casos”, finaliza o consultor da SBI.
A pandemia na China e na Europa
Wuhan, na China, o epicentro da doença, registrou os primeiros casos ainda em 2019, no fim de dezembro. Com a progressão rápida e contínua no número de registros, medidas que restringiam a livre circulação de pessoas pelas ruas da cidade foram adotadas para impedir que a disseminação do vírus fosse maior. O tráfego aéreo também sofreu interrupções e as forças armadas e a polícia foram convocadas para evitar aglomerações e exposições desnecessárias da população.
Essas medidas não foram adotadas, por exemplo, na Itália, país que ainda vive momentos de tensão com muitas mortes e novos casos. Dados da agência de notícias britânica Reuters apontam que apenas na segunda-feira (23 de março) foram registradas 602 mortes. O número mais alto para um dia foi o de sábado (21 de março), quando 793 pessoas faleceram.
Uma equipe de saúde chinesa se deslocou para a Itália para auxiliar o país no enfrentamento dessa pandemia. Na ocasião, o vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa disse que em meio ao caos já instalado no país, “o transporte público continua funcionando, há muitas pessoas pelas ruas e ainda há jantares e festas em hotéis. Além disso, na área mais atingida pelo vírus, as pessoas não usam máscaras”. A afirmação foi feita por Yang Huichuanm, durante entrevista coletiva em Milão, região mais afetada pela doença.
O fato é que adotar medidas como o isolamento social prova que é possível conter o avanço da doença. A China, para efeito de comparação, iniciou a quarentena em Wuhan, dia 23 de janeiro, quando 600 casos da doença haviam sido registrados. A Itália adotou a mesma postura apenas em 8 de março, com mais de 7.300 casos diagnosticados.
Isso demonstra a eficácia de se isolar durante esse período. O Brasil também segue recomendações da OMS e do próprio Ministério da Saúde, que recomenda a permanência das pessoas em suas casas, a exemplo do que foi visto na China. Os governos e prefeituras de diversas cidades seguem apoiando as recomendações do ministério e restringindo a abertura de comércios, lanchonetes, restaurantes e outros serviços não essenciais.
A atenção aos idosos é outro ponto de atenção, já que eles fazem parte do grupo de risco suscetível ao contágio. É necessário ressaltar que, na Itália, a maioria dos casos de mortes é de pessoas acima dos 50 anos e com alguma doença crônica, por isso a necessidade dessas pessoas se isolarem temporariamente. Essa informação foi dita pelo médico italiano Antonio Montegrandi, especialista em doenças infecciosas, e reproduzida em uma matéria do jornal O Globo.
Na contramão da Itália, a Alemanha é um dos países que registra muitos casos, mas sua taxa de mortalidade é uma das menores. Durante entrevista ao jornal alemão ZEIT, Christian Drosten, chefe de virologia do hospital Charité de Berlim e especialista em coronavírus, disse que o país está à frente de outras nações principalmente pelo número de testes realizados para diagnosticar precocemente esses pacientes.